Ações como implantação de energia solar e captação de água da chuva ganham mais adeptos e ajudam a tornam os espaços mais sustentáveis
Os impactos das mudanças climáticas do planeta são assuntos que parecem distantes das vidas dos condomínios, porém, espaços mais sustentáveis colaboram com a missão de atenuar as consequências ocasionadas como, por exemplo, emissões de poluentes. Segundo os cientistas e pesquisadores, o momento é de repensar com urgência nossos hábitos e nossa relação com os aspectos ambientais. Preservação das florestas e dos recursos hídricos é o mínimo que se exige para um futuro mais promissor para todos.
E os condomínios têm um papel importante para o desenvolvimento sustentável. Isso porque, esses espaços com centenas e até mesmo milhares de pessoas podem ser grandes fontes poluidoras se não tomarem as medidas adequadas para a preservação. Edifícios projetados com energia solar e captação de água da chuva, que visam à economia dos recursos hídricos, são alguns dos princípios que garantem maior sustentabilidade.
O biólogo Luiz Henrique Terhorst destaca as mudanças climáticas como essenciais para despertar nas pessoas a obrigação de olhar para o avanço ecológico e econômico correto como algo cada vez mais importante para a sobrevivência do planeta.
“Sentimos a necessidade de adequar nossas atividades a padrões de sustentabilidade e isso é muito importante. Ao longo de muito tempo, enquanto sociedade, nós desenvolvemos as nossas atividades econômicas sem pensar no meio ambiente. Hoje pagamos o preço: as mudanças climáticas já são realidade e isso causa eventos extremos. Estar ciente de que todos fazem parte do problema é o primeiro passo. Temos que vestir a camisa e atuar, no dia a dia, para sermos pessoas melhores para o nosso planeta”, destacou o biólogo.
E os condomínios podem implantar alguns hábitos considerados básicos, mas que na prática são essenciais para que exista uma contribuição eficiente com o meio ambiente. Terhorst acredita que uma gestão voltada à destinação de resíduos, por exemplo, traz enormes benefícios em longo prazo.
“Separar os resíduos recicláveis é uma atividade básica, mas muita gente não faz de maneira correta. É muito importante também o condomínio fazer essa gestão adequada. Não adianta a pessoa separar o resíduo em sua casa e isso não ser direcionado para a coleta seletiva. A implantação de hortas e composteiras comunitárias são alternativas ao descarte adequado de resíduos. Além disso, a utilização de energia solar muitas vezes é uma solução viável para a redução dos custos do condomínio”.
Algumas ações podem reduzir o desperdício, e, por consequência, os gastos mensais: automatização da iluminação de áreas comuns, instalar sistemas de captação de água da chuva e o reuso da água, por exemplo. O biólogo ressalta que cada pessoa é responsável por um resultado coletivo.
“É importante analisar que soluções se adaptam para cada caso. Muitas coisas envolvem a conscientização coletiva, então um dos modos de fazer com que o consumo de todo o condomínio seja reduzido é promover a educação ambiental, visando que todos os condôminos tomem suas ações particulares para evitar qualquer desperdício (dentro e fora do seu apartamento). É importante pensar que todos nós pagamos a conta do planeta que destruímos”, disse Luiz.
Outro ponto que pode ser um equívoco é tratar a sustentabilidade como uma preocupação do futuro. O assunto gera uma preocupação relevante para os dias atuais, tanto é verdade que os produtos oriundos dos recursos naturais (como energia gerada por hidrelétricas, captação de água, saneamento básico etc.) estão com valores cada vez mais elevados por conta da escassez ou poluição. Buscar empresas que tenham ações de preservação ambiental também é contribuir com o planeta.
“Hoje em dia a sociedade já se preocupa muito e procura empresas mais sustentáveis, assim como compra em estabelecimentos sustentáveis. Por que não trazer esses hábitos para casa? É necessário olhar para nossos condomínios e trabalhar para que estejamos em ordem com o meio ambiente”, completou o biólogo.
Iniciativas sustentáveis
O Mirante Quatro Estações, localizado no bairro Serraria, em São José, é um dos espaços que preza por ações de sustentabilidade. O condomínio, que tem 1.190 moradores e 240 apartamentos em seis torres possui, entre outras iniciativas, uma horta mantida pelos próprios condôminos. O síndico Dalmo Mayer Tibincoski explica que ouvir as pessoas que vivem no local é muito importante para saber o que implantar.
“Começamos aos poucos, de forma simples, apoiando as iniciativas de moradores, ouvindo, analisando, melhorando e aumentando os espaços. O importante não é querer uma horta enorme de um dia para outro, mas sim de muda em muda, de canteiro em canteiro e claro, convidando as pessoas a participarem do plantio, do cuidado e da colheita das verduras e legumes”, disse o síndico.
Além da horta administrada pelos moradores, o Mirante Quatro Estações ainda aplica outras ações voltadas à sustentabilidade, como coleta seletiva de lixo, compostagem dos resíduos orgânicos, aproveitamento da água da chuva, irrigação das plantas por gotejamento, hidrômetros e medidores de gás individualizados, o programa Carona Solidária (para evitar mais carros em circulação) e um projeto para implantação de energia fotovoltaica (produzida a partir do calor e da luz solar).
“Tudo o que é reciclável é vendido para uma empresa devidamente credenciada. Temos uma compostagem nos fundos do condomínio que produz adubo para a horta e demais plantas que temos pelo condomínio. Acredito que nosso condomínio tem uma estrutura que consegue absorver inúmeras iniciativas, mas em qualquer outro condomínio, independentemente do tamanho, sempre haverá algo diferente para fazer que contribua com o meio ambiente. A administração precisa estar atenta, envolver os moradores adultos e as crianças, ouvir sugestões e compartilhar boas práticas”, opinou Dalmo.
Mais práticas de sustentabilidade
O Edifício Fontainebleau, localizado no centro de Florianópolis, é outro exemplo de espaço que contribui com a sustentabilidade. São dois blocos, 112 apartamentos e aproximadamente 350 moradores que usufruem de energia solar e sistema de captação de água da chuva.
“A geração de toda a nossa energia é usada nas áreas comuns, elevadores, bombeamento e 300 pontos de iluminação. Essa nova fonte de energia nos proporciona muita economia. Priorizamos também a captação de água da chuva. Toda a água usada em limpeza e na jardinagem é coletada da chuva, temos um reservatório de 10 mil litros que fica desconectado da rede da Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento). E, com isso, nossa tarifa de água diminuiu junto à concessionária”, explicou o síndico Sílvio Rosa.
Ele aponta, também, outras ações realizadas no condomínio e que são importantes para a preservação do meio ambiente. Uma delas é a coleta do óleo de cozinha utilizado no preparo de refeições. Descartado de maneira imprópria, há o risco de contaminação da água, do solo e até mesmo da atmosfera.
“Temos coleta de óleo e incentivamos os moradores a não jogarem na rede de esgoto. Refizemos nossa rede de esgoto, pois a antiga estava inadequada. Coletamos o óleo também para diminuir o custo de manutenção das nossas oito caixas de gordura com mil litros cada uma. Temos a coleta seletiva há bastante tempo e estamos incentivando a separação do lixo orgânico, mas ainda estamos iniciando esse processo para quando tivermos a oportunidade já tenhamos essa consciência de como fazer. Somente aquilo que não tem mais possibilidade de reaproveitamento é enviado para o aterro”, destacou o síndico.
Outra preocupação no Edifício Fontainebleau é com as empresas prestadoras de serviços. A contratação é efetuada apenas depois da conferência dos documentos e licenças para operação de maneira correta e sem agredir o meio ambiente.
“Verificamos as certificações e o licenciamento ambiental das empresas antes da contratação. Um exemplo é a empresa que efetua a limpeza de caixa de gordura. Ela tem que estar de acordo com as normas. O mesmo ocorre nas obras para a contratação da responsável pelo recolhimento do entulho. Buscamos empresas que levem os restos para aterros com a destinação correta. É necessário fazermos a nossa parte, nosso dever de casa, antes de cobrar qualquer coisa das autoridades”, completou.
Hidrômetros individuais
Um dos problemas atuais no Brasil é a grave crise hídrica que pode ocasionar em apagões, uma vez que reservatórios essenciais para geração de energia por hidrelétricas estão níveis muito abaixo do limite mínimo. O baixo volume de chuvas deixa a situação ainda mais complicada. Evitar o desperdício de água é necessário para ajudar na preservação, e os condomínios têm uma parcela importante no tema.
A Lei Federal 13.312 de 12 de julho de 2016 regulamenta que todos os novos condomínios entregues a partir de julho de 2021 estejam preparados para a individualização de água. Com consumo de cada apartamento sendo monitorado, fica mais fácil detectar vazamentos, além de valorizar o patrimônio, combater a cultura do desperdício, reduzir os gastos e tornar o espaço mais sustentável.
Especialista na área de individualização de hidrômetros nos condomínios, Marcos Rizzo considera possível a atualização mesmo em edifícios mais antigos em que o consumo de água tem apenas um medidor e existe um rateio por igual da conta para os moradores.
“Para os condomínios mais antigos é possível implantar a individualização. Neste caso, são instalados hidrômetros junto aos registros existentes em cada apartamento, para que cada coluna de água seja monitorada. Neste caso, como não se trata de uma obra, mas, sim, de uma instalação interna da unidade, um morador ou grupo de moradores pode tomar a decisão de individualizar o seu apartamento, já que o investimento será de cada unidade habitacional. O condomínio não pode proibir”, justificou Rizzo.
Construído na década de 1980, o Edifício Fontainebleau preza pela preservação dos recursos hídricos. A opção encontrada pelo síndico Sílvio Rosa foi justamente implantar hidrômetros por grupo de apartamentos para detectar vazamentos que geram o desperdício de água.
“Por ser um condomínio construído nos anos 1980, priorizamos a questão do consumo consciente dos recursos hídricos. Não tivemos como colocar hidrômetros individualmente, mas a cada oito apartamentos nós temos o controle deles juntos. E, assim, conseguimos reduzir o consumo, pois identificamos possíveis vazamentos. Isso é observado quando o consumo fica muito acima da média mensal”, completou Sílvio.
Ações em novos empreendimentos
Atuando diretamente na gestão ambiental e licenciamento do empreendimento de mobilidade urbana da cidade do Rio de Janeiro, o engenheiro Camilo Pinto de Souza enxerga um avanço de leis e normas que obrigam as construtoras a utilizar materiais menos poluentes. Ele, porém, acredita que isso tenha um impacto muito mais voltado à economia do que para o avanço sustentável.
“As leis e normas de construção avançam nesse sentido, porém, esses instrumentos voltam-se para a otimização e redução de custos com a construção e operação desses empreendimento. Porém, acredito ser relevante, sendo o início da sensibilização do setor para sustentabilidade e qualidade de vida dos futuros compradores dos imóveis, se enquadrando futuramente como um diferencial de mercado”, disse o especialista.
Camilo, que também é especialista em Ciências Ambientais considera que um condomínio pode contribuir de diversas maneiras com a prática sustentável. As construtoras, por exemplo, devem estar atentas ao entorno do novo empreendimento para saber onde (e como) agir e minimizar os impactos àquela comunidade.
“Empreendimentos são grandes geradores de impactos negativos para o meio ambiente. Essas pequenas cidades verticais devem buscar contribuir para minimizar seus impactos constantemente. Implantar uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), para tratar seus efluentes líquidos antes de despejá-los nos corpos hídricos, é uma das práticas que se espera. Cada uma fazendo sua parte irá resultar em um impacto direto na vizinhança, gerando algo positivo para sociedade”, completou.
Imagem: Pixabay
Fonte: Condomínio SC