Das habilidades que um síndico precisa desenvolver e aprimorar, com certeza, gostar de resolver problemas deveria encabeçar uma lista gigantesca.
Nesse sentido, estar disponível é uma das características fundamentais de um bom líder, que precisa equilibrar os pratos da balança para também cuidar de seus liderados, no caso, os condôminos.
Afinal, muitas vezes a resposta que o condômino precisa é simples: um bom dia, um sorriso, a indicação de um prestador de serviço ou até mesmo uma palavra de afeto. Em outras palavras, um “sim” pode fazer toda a diferença.
Contudo, nem sempre a situação é tão tranquila. Às vezes, a reação a um contato inesperado em um horário avançado ou muito cedo pode nos deixar reativos, já que tínhamos planejado uma lista imensa de atividades e pensamos apenas no quanto isso nos atrasará. Nesses casos, treinar a escuta ativa torna-se essencial, pois proporciona segurança tanto na tomada de decisões quanto na resposta à demanda que chega.
Sob essa perspectiva, costumo pensar que, aos olhos dos moradores, muitas vezes somos vistos como aqueles que vão “salvar o dia”, trazendo uma solução prática para um problema que, para nós, parece pequeno, mas que para o outro é enorme.
Além disso, listar as prioridades junto a um condômino mais exigente pode ser libertador. Um simples ajuste, como propor: “Quem sabe fazemos dessa maneira, em um horário que fique bom pra você também, e assim conseguimos resolver essa demanda?” pode atender à solicitação dele sem sobrecarregar nossa rotina.
Outro ponto relevante é compreender que também somos os olhos dos proprietários, que muitas vezes estão distantes e necessitam de auxílio para o gerenciamento de seu patrimônio. Nesse aspecto, a relação se torna uma via de mão dupla.
Para ilustrar, recordo de um caso em que atualizamos a convenção do condomínio com ampla participação dos condôminos no debate sobre a validade da procuração dada ao síndico em uma assembleia. Percebe-se, então, que não se trata apenas do voto para a eleição, mas da garantia dos interesses da coletividade.
Em muitas situações, é o síndico quem conhece a pessoa necessária para atingir o quórum de uma deliberação, já que pode não haver outro condômino disponível para representá-la. Assim, o síndico acaba sendo a figura de confiança nesse processo.
No entanto, existe também o outro lado da moeda. Há condôminos que acreditam que o síndico deve ser o gestor de toda a sua vida condominial, terceirizando problemas e exigindo soluções imediatas para atritos com vizinhos. Em certos casos, chegam a infringir regras e ainda resistem ao cumprimento das penalidades. Nessas horas, é preciso deixar claro: síndico não é babá. Tampouco porteiro, faxineiro ou zelador.
É justamente aí que a inteligência emocional se torna indispensável, pois demonstra a capacidade do líder diante de seus liderados. Todos temos problemas, mas estabelecer limites fortalece a atuação do síndico. Afinal, a autoridade se constrói com atitudes constantes que expressem preocupação com o outro, exercitando também uma habilidade essencial: a empatia.
Por fim, cabe lembrar que somos seres gregários, em que conexões e relacionamentos são fundamentais. Ao me tornar síndica, precisei desenvolver inúmeras habilidades e adquirir conhecimentos que não faziam parte da minha rotina. No entanto, confesso: nunca imaginei que me tornaria, sobretudo, uma verdadeira resolvedora de problemas.
Eliana Eidelwein, síndica profissional, empresária, proprietária da Habitar Multisindica, Diretora Financeira da ASDESC
Imagem: Freepik
Fonte: Condomínio SC



